Quase 60% dos pacientes em tratamento da aids já tiveram algum evento adverso, indica pesquisa apresentada durante seminário em Nazaré Paulista
Um panorama dos efeitos colaterais em aids e hepatites virais no Brasil foi apresentado por ativistas, representantes do governo e pesquisadores presentes no I Seminário de Eventos Adversos e Medicamentos em HIV/Aids e Hepatites Virais, que acontece em Nazaré Paulista, interior de São Paulo.
Ronaldo Hallal, do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, e Alexandre Granjeiro, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, divulgaram dados de pesquisas sobre o tema, mostrando a alta prevalência de efeitos adversos nos pacientes em tratamento com antirretrovirais.
Granjeiro mostrou uma pesquisa desenvolvida na USP que acompanhou o quadro clínico de soropositivos de 2003 a 2011, em 11 cidades das cinco regiões do Brasil. O estudo trouxe dados reveladores, mostrando que 57% dos participantes apresentaram pelo menos um efeito adverso de nível no mínimo moderado. Das pessoas que apresentaram algum efeito colateral, a média é de 2,5 eventos por pessoa no período.
A pesquisa também mostra que após sete anos de tratamento, a chance do paciente ter tido efeito colateral é de 80%, sendo mais comum a ocorrência de náuseas e vômitos.
Cerca de 75% dos pacientes em tratamento tomavam uma das três principais combinações de medicamento, não havendo diferenças significativas entre elas em relação à supressão de carga viral. Nos oito anos de tratamento, 98% deles conseguiram zerar a carga viral pelo menos uma vez.
No que diz respeito a eventos adversos, observou-se que a combinação com o Atazanavir é a com menor incidência de problemas no aparelho gastrointestinal, enquanto o Efavirenz é o que mais causa incidências psiquiátricas.
Já o médico Ronaldo Hallal destacou também a necessidade de se promover um estilo de vida mais saudável, com a prática de exercícios físicos e redução do tabagismo, a fim de prevenir doenças cardiovasculares. Hallal defendeu que o tratamento com antirretrovirais seja iniciado mais cedo. “Embora esses medicamentos também causem transtornos, eles podem ajudar a tratar outras doenças”.
O representante do governo defendeu também uma integração entre os movimentos de aids e de hepatites virais. Segundo ele, conforme os movimentos se fortalecem, melhor fica a resposta às epidemias.
Nádia Elizabeth Cardoso, da ONG Hepatche Vida, concorda. Para a ativista, é necessário disseminar a informação a respeito das hepatites e acompanhar os portadores desde o começo, não bastando somente a intervenção médica.
Edson Lázaro Dos Santos, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, completou a mesa. Ele reforçou que cada organismo é único, não havendo a obrigatoriedade de reagirem da mesma forma aos medicamentos. “O psicológico é muito importante e deve ser trabalhado. Às vezes a pessoa lê a bula e então fica com medo do remédio. Acaba virando uma fobia social, uma questão de ansiedade”, disse.
O I Seminário de Eventos Adversos e Medicamentos em HIV/aids e Hepatites Virais termina neste domingo, 27 de agosto.
Nana Soares
Fonte: Agência de Notícias da AIDS.