Em São Paulo, médicos pesquisadores reforçam importância do tratamento como prevenção do HIV

05/08/2012 01:57

Entusiasta de novas ideais e abordagens tecnológicas para a prevenção do HIV, o pesquisador e infectologista Esper Kallás (foto ao lado) disse nesta sexta-feira, 03 de agosto, que o tratamento como prevenção do vírus da aids é uma das maiores descobertas já obtidas na luta contra a pandemia.

Palestrante do simpósio Infectologia em Evidência, que teve a programação integrada ao I Encontro Científico de Ex-Residentes e Médicos Estagiários do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Esper usou dados do estudo HPTN 052 para reforçar seu argumento.

Realizado com casais sorodiscordantes (quando apenas um tem o vírus) de vários países, inclusive do Brasil, este estudo mostrou que portadores do HIV que iniciam o tratamento antirretroviral mais cedo, ou seja, quando o HIV ainda não afetou muito seu sistema imunológico (CD4 entre 350 e 550) tem 96% menos chance de transmitir o vírus em comparação àqueles que começam a terapia mais tarde, com as cópias das células de defesa do organismo CD4 menor que 250.

As atuais orientações terapêuticas, tanto no Brasil quanto na Europa e nos Estados Unidos, recomendam adiar o início do tratamento em adultos assintomáticos até que o valor das células CD4 caia para valores inferiores a 350 células.

“O tratamento como prevenção foi a grande descoberta em toda a área da saúde em 2011”, afirmou o pesquisador.

Para Esper, que também é professor associado da Universidade de Medicina da USP, o governo brasileiro deveria começar a discutir mais as possibilidades de adotar outras estratégias de prevenção ao HIV, como o uso de remédios para algumas populações bem vulneráveis à infecção, mesmo que estas não tenham o vírus (profilaxia pré-exposição) e até a circuncisão masculina.
Testes clínicos apresentados recentemente mostraram que o uso do antirretroviral Truvada pode reduzir o risco de HIV em homens homossexuais de 44 a 73%. Já a circuncisão protege os homens circuncidados do vírus da aids em cerca de 60%.

“A camisinha como método único de prevenção já mostrou que tem sua limitações, pois em homens que fazem sexo com homens na cidade de São Paulo, por exemplo, há uma prevalência do HIV de 16%, contra os 0.6% da média nacional”, disse Esper. “Acredito que o Brasil reúne condições de oferecer aos casais sorodiscordantes o tratamento como prevenção”, acrescentou.

Segundo o pesquisador, ao contrário do que se espera, estudos indicam que pessoas submetidas a estratégias de prevenção sem o uso do preservativo não abandonam totalmente o insumo. A caminha continua a ser usada na mesma proporção ou até com mais frequência.

Dra. Beatriz Grinsztejn, responsável pelo Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, participou como pesquisadora do estudo HPTN 052.

Presente no evento promovido pelo Instituto Emílio Ribas em São Paulo, ela lembrou que os antirretrovirais disponíveis no consenso brasileiro para o tratamento da aids não são os mais modernos do mundo em relação à menor toxidade, mas que mesmo assim já ficou comprovado que os efeitos adversos dos medicamentos são menores que do HIV no organismo.

“Com uma boa combinação de medicamentos e o tratamento mais cedo, os portadores do HIV têm mais chances de terem a carga viral indetectável e uma qualidade de vida próxima da pessoa que não tem o vírus”, disse Beatriz.

Dr. Carlos Roberto Brites Alves, coordenador do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia, destacou a grande evolução obtida no tratamento da aids. “Já tive paciente que tomava 47 comprimidos por dia, e as potências dos remédios eram pequenas e os efeitos colaterais altíssimos”, disse para os jovens médicos presentes no evento. “Hoje o tratamento da aids já é muito mais palatável”, completou.

A infectologista Rosana del Bianco (foto ao lado), do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, trouxe ao simpósio alguns dados recentes apresentados na 19ª Conferência Internacional de Aids em Washington, nos Estados Unidos.

Segundo ela, a África do Sul foi destacada na Conferência como um dos países com maiores taxas de adesão ao tratamento antirretroviral. “É que lá, os remédios são reunidos todos num comprimido só. Quanto menos comprimidos, mais fácil fica a adesão. Esta é a grande charada”, disse.

Ex-médica do Emílio Ribas, Rosana lembrou aos colegas de profissão sobre o inicio da epidemia, quando segundo ela, os médicos mais experientes mandavam os residentes ir cuidar dos pacientes com aids. “Ninguém sabia nada sobre esta doença. Nós passamos a receber um adicional no nosso holerite para atender os infectados”, comentou.

O Simpósio de Infectologia em Evidência e I Encontro Científico de ex-residentes e médicos estagiários do Emílio Ribas termina neste sábado.

Fonte:  agenciaaids.com.br/noticias/interna.php?id=19464