Ativistas discordam de ‘estabilização da epidemia’ e reforçam retrocesso contra a aids
Ativistas de luta contra a aids que apoiam o manifesto “O que nos tira o sono”, divulgado nesta terça-feira, 21 de agosto, disseram ter dúvidas sobre a estabilização da epidemia no País, conforme ressalta o Departamento de Aids do Ministério da Saúde, e reforçam o retrocesso da reposta nacional contra doença.
“Essa estabilização pra nós não é verdadeira, ela é acadêmica. É uma estabilização dentro de um estudo deles [do governo], que não tem como provar para nós. Nunca mostraram como é feito o estudo. Enquanto não conhecermos a metodologia usada, continuaremos questionando esses números”, disse Araújo Lima Filho, coordenador do Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada (EPAH), de São Paulo.
Segundo Araújo, o diagnóstico precoce ao teste de HIV é fundamental, mas é comum apenas em poucos lugares no Brasil. “Há uma grande parcela da população ficando de fora, e isso nos incomoda muito. Estamos dentro de um governo que não admite questionamento”, comentou.
Em resposta ao manifesto, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde ressaltou o aumento do número de pessoas diagnosticas e tratadas contra o HIV no País e a estabilização da epidemia. (Saiba mais aqui).
"O que me tira o sono é a acomodação da sociedade civil, mas acho que ela finalmente acordou da letargia dos últimos anos. É necessário transformar esse sentimento em ação, só assim conseguiremos acertar o passo na luta contra a epidemia. Também me tira o sono e causa pesadelos acordado o avanço do fundamentalismo cristão em todas as esferas de poder", disse Beto Volpe, presidente do grupo Hipupiara, de São Vicente, e um dos representantes do colegiado da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+) no estado de São Paulo.
Renato da Matta, da secretaria executiva do Fórum de ONG/Aids do Rio de Janeiro, também acredita que a pressão da bancada evangélica no Congresso Federal é a principal responsável pelo retrocesso do combate à doença no País. “Hoje, se quisermos desenvolver um projeto de prevenção ao HIV nas escolas com distribuição de preservativos, por exemplo, encontraremos uma grande dificuldade por conta das críticas evangélicas”, comentou.
Renato disser ter dúvidas sobre a real situação epidemiológica no País. “Ao contrário do que diz o governo, a aids não está controlada. Todos os dias notamos muitos novos casos, principalmente entre a população jovem”, conta.
Ele critica ainda a qualidade do atendimento prestado aos doentes com HIV. “Dar medicamentos já não é mais o maior desafio... Precisamos agora garantir o bom atendimento aos soropositivos com internações e remédios para doenças oportunistas, o que aqui no Rio de Janeiro e terrível”, disse. “A aids mudou de cara no Brasil, mas o governo não mudou sua postura em relação a isso”, acrescentou.
O representante da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV e Aids, José Rayan, disse que a resposta brasileira contra a epidemia deixou de ser dinâmica e inovadora. “Não só a política do programa nacional de aids está retrocedendo, como o Estado no que diz respeito às questões de direitos humanos”, enfatizou.
Para ele, é necessário que as populações vulneráveis participem e tenham um espaço garantido na construção das políticas de saúde. “O veto [à campanha do carnaval] foi violação de direitos humanos e impedimento de participação social. O governo precisa inovar nas campanhas e na qualidade técnica e política do Departamento [de Aids]. O Departamento precisa ter mais autonomia”, comentou.
O presidente do grupo Pela Vidda de São Paulo e especialista em saúde pública, Mário Scheffer, acredita que o manifesto reforça as críticas ao combate da epidemia no País.
“O fato das críticas virem de todos os lados quer dizer que estamos diante de uma crítica generalizada. Em função disso, o programa devia sentar e dialogar, pois há um consenso de que a resposta brasileira tem problemas”, finalizou.
Redação da Agência de Notícias da Aids
Fonte: Agência de Notícias da Aids